Muito se fala em intuição quando o assunto é produção artística. Mais ainda entre nós, espíritas, afinal, para o senso comum, intuição tem algo a ver com inspiração mediúnica, o que generaliza o fenômeno, já que “somos todos médiuns”, não é assim?
Quando a gente apresenta algo artisticamente bem elaborado, é comum que alguém nos elogie com a frase “você estava inspirado, hein?!”, ou “você foi muito bem intuído!”.
Mas o que é intuição?
Podemos analisar o tema de diversas maneiras, mas eu vou me ater a duas delas.
Começarei pelo aspecto menos comentado entre nós, espíritas, o da intuição como produto do nosso processamento cerebral. Neste caso ela é vista como algo que deriva das associações conscientes e inconscientes que nosso cérebro é capaz de realizar considerando suas experiências, vivências, observações anteriores, o conhecimento acumulado e uma série de memórias arquivadas que se combinam para, no momento presente, “parir” uma ideia original e gerar insights úteis e criativos.
A intuição vista desta forma, com o aval da neurociência, não é algo que me pareça muito valorizado entre nós, talvez porque soe como uma espécie de animismo, ou porque para alguns é uma ideia que flerta com a vaidade (afinal assumo que aquela bela obra fui eu que criei), ou simplesmente porque é despida do “encanto” (e de um outro tipo de vaidade?) – a de sermos canais para os espíritos que nos inspiram (superiores, é claro!).
Mas, há uma segunda maneira de vermos a intuição, agora sim, a mediúnica.
Ora, todo corpo doutrinário deixa claro que os espíritos nos inspiram muito frequentemente (nem sempre os “bons”), e não seria diferente entre os artistas. Quanto a isso, deixo apenas um alerta que às vezes é negligenciado. Em O Livro dos Médiuns, temos muito bem explicado que o material mental/espiritual do médium facilita ou dificulta o trabalho dos espíritos. Portanto, se o médium traz uma boa bagagem cultural e artística, se costuma estudar, se tem o hábito de observar e refletir sobre a vida, se conhece bem o Espiritismo, torna o trabalho dos espíritos que o desejam intuir muito mais fácil e fecundo.
Portanto, seja a “intuição anímica”, seja a “intuição espiritual”, sua eficácia e qualidade dependerá dos elementos cultivados por nós. Como artistas espíritas, precisamos refletir sobre a nossa arte, aprimorar nossa técnica, estudar suas nuances, conhecer outros autores, estudar a doutrina espírita, aprender a observar a vida com atenção plena, cultivar uma cultura geral, buscar bons referenciais, aumentar nosso nível de consciência para aproveitamento das experiências vividas.
Acredito que os dois tipos de intuição se combinem e pouco importa qual delas predominou nesta ou naquela canção, por exemplo. Importa que seja de boa qualidade, bela, tocante, inspiradora.
A intuição pode nos ajudar, sim. Mas precisamos aprender a ouvi-la, o que também requer uma boa dose de autoconhecimento, silêncio, sintonia e centramento.
(ago2021)